Jornal A Semana

(RE) ANALISAR

  • Douglas Varela
  • 08/04/2019 06:51
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Não sei se vocês têm o hábito de estudar arte, parar em frente de quadros e passar minutos ou quiçá horas admirando-os, saboreando uma obra, lendo e relendo trechos de uma poesia ou talvez até mesmo um texto como este, deliciando-se ao som de uma música ou deixando-se levar por um ritmo compassado, mas particularmente, sou uma grande fã da arte.

Talentos artísticos são-me escassos, porém gosto de analisar os contextos em que estão inseridos. Compreender o porquê de certas manifestações. Os meios que justificaram os fins ou os prefixos que originaram os sufixos. Simplesmente, a história da arte, desde pinturas rupestres, renascentistas ou instalações contemporâneas, encantam e induzem à novas percepções de mundo.

Estes dias estava a assistir as aulas do professor José Leonardo do Nascimento, que são alguns vídeos gratuitos disponibilizados pela Univesp os quais nas primeiras aulas ele explica que nós atribuímos poderes mágicos às imagens. Os tratamos como se fossem vivas. Já imaginou se alguém pegasse uma foto de sua mãe e rabiscasse, rasgasse ou fissurasse, como se sentiria? Seria o mesmo que desrespeitar a própria pessoa viva e isto, levou-me a reflexão de que não apenas atribuímos poderes mágicos às imagens, mas a tudo que nos cerca. Cada entrelinha que compõe nossas vidas é planejada, amada e posta como real, mesmo que não passe de um sonho.

Nos iludimos com objetivos, traçamos metas, nos apegamos a elas e sofremos. Como sofremos! Dan Brown diz que aquilo em que cremos nos controla. E penso que nenhuma pessoa pode encontrar em nós maior ponto fraco do que quando lida com nossos sonhos. Quando critica nossas crenças futuras ou doutrinas, políticas, religiosas, alimentares, culturais ou intelectuais que seguimos.

Montaigne cita que as coisas não possuem valor próprio, mas o valor que destinamos a elas e a época em que são criadas lhes condicionam. Lembram-se das grandes navegações o quão as especiarias eram caríssimas? E agora, pouco valem. Isto não quer dizer que deixaram de serem boas ou importantes, mas que nossa visão sobre elas foi alterada.

Não lhes atribuímos mais valores mágicos. E talvez, em nossas vidas, precisamos dar essa reviravolta.

Sem ficarmos confinados em uma visão fechada, com apenas um ângulo singular que pensa não haver outras possiblidades se não certo rumo delimitado. Para cada nova escolha existem milhões de possiblidades e o mundo não irá acabar se algo não sair exatamente como planejamos. Quem sabe, até seja melhor.

Porque ainda não tínhamos a maturidade para julgar certa situação como realmente lhe cabia. E o que antes valia um milhão, agora não passa de um centavo. Nos atormentamos com as ideias que temos das coisas e não com as coisas em si.

Que tal não exaltarmos tanto certas ocasiões que nos ferem e nos permitirmos reanalisarmos com mais calma, prudência e sobre outras perspectivas?

 

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