Jornal A Semana

ARTESANIA NO SÍTIO DE DANILO E ZAIRA PISSOLI

  • Douglas Varela
  • 31/08/2019 08:42
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Há algum tempo, me pergunto como a manutenção da artesania de um alambique familiar na Linha Leãozinho (Ouro-SC) consegue ser mantido. Seria porque vale à pena, financeiramente? Ou por ser uma ocupação importante que reúne os membros da família? Ou porque as pessoas da região não abrem mão do sabor específico daquelas bebidas e, ao comprarem os produtos, acabam ajudando os agricultores nas épocas de entressafra? Ou tudo isso?

Entrevistei a família de Danilo e Zaira Pissoli, começando com a pergunta: É verdade que a ideia inicial foi da senhora, Zaira?

“Sim, eu tive a ideia, depois de ver que os vizinhos já faziam. Então, um dia eu disse assim: nós também poderíamos comprar um alambique pequeno para fazer para o nosso gasto... Mas depois do nosso gasto, todo mundo quer, rsrsrs”.

O trabalho com alambique artesanal não é mais tão comum na região. O próprio Sergio Pissoli, filho do casal, lembra:

“Antigamente, nos anos de 1950/60, todo mundo fazia cachaça. Cada comunidade tinha de 10 a 12 alambiques, e depois foi sumindo, sumindo... Então, naquela época em que resolvemos comprar o alambique, não existia mais na região, foi comprado por isso. Nos anos 70 / 80 tinha bastante de novo, e agora diminuiu de novo. Deve ter uns sete no município. Antigamente tinha uns duzentos”.

Por que vocês acham que houve diminuição do trabalho com alambique artesanal? Conforme Zaira, “tem menos gente que trabalha com isso, porque dá muito trabalho. Não são todos que aguentam fazer. Umas vezes ficávamos até de noite, quando tinha bastante cana para moer. Agora não, faz de pouco a pouco até que dá, e quando escurece já para”.

Marlene, esposa de Sergio, acrescenta que “está difícil de manter a cana, não sei se é por causa do veneno ou o que pode ser. Mais difícil do que uma vez”. E Zaira completa: “Agora, muitos cortam a cana para dar para as vacas ou para engordar os bois”.
Conforme Danilo Pissoli, os equipamentos utilizados “são de aço inoxidável, que não deixam gosto nos produtos. No passado, muitos utilizavam o tambor, que deixava gosto”.
Sergio Pissoli explica:

“Além da cachaça a gente aproveita o bagaço da uva e produz a graspa. E precisa de lenha para fazer a cachaça, um serviço a mais. O bagaço da uva a gente ferve com água, e dele sai um líquido corrente, que é jogado de volta no alambique, sendo novamente fervido para depois fazer a graspa. Só que ela é um pouco mais forte do que a cachaça”.

Estive lá. Conheci tanto a Cachaça quanto a Graspa. Os agricultores e artesãos fazem parte da APARO-Associação dos Produtores Rurais e artesãos de Ouro-SC – Produtos Coloniais e artesanais Del'Oro.
Realmente, ter os equipamentos bem escolhidos, respeitar cada etapa do processo e cultivar a paciência são iniciativas determinantes para alcançar a prosperidade.
Mas é, também, um jeito especial de resistência ao ritmo veloz do mundo atual, no qual objetos são descartados, rapidamente, e processos de artesanias antigas ficam esquecidos.
Gostou do tema? Escreva para mim e indique outras artesanias familiares que você admira.


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