Jornal A Semana

DESMOTIVAÇÃO E PROCRASTINAÇÃO DURANTE A QUARENTENA

  • Douglas Varela
  • 23/05/2020 09:28
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Enquanto pensava sobre o tema que poderia conduzir as palavras desta coluna percebi que nada faz-se tão necessário quanto falar sobre a pandemia. Vivenciamos uma crise moral, ética, biológica e política. No entanto, durante o momento que pensamos em macroproblemas que afligem nações e continentes esquecemos de cuidar de obstáculos micro, os quais fazem-se presentes em nossas casas e dentro de nós mesmos.

Dentre a insegurança, o medo e a ansiedade, eu poderia citar a procrastinação como o principal problema que eu e meus amigos têm enfrentado. Apesar de a palavra ser um tanto estranha faz alusão a uma realidade comum e palpável, sendo que procrastinar vem do latim “procrastinatus”, significando “à frente do amanhã”, ou seja, a enorme necessidade que temos de adiar o que precisa ser feito a longos prazos em prol de prazeres imediatos.

Para estudantes com seus 16, 17 ou 18 anos, a quarentena pareceu de imediato uma oportunidade para colocar em dia a matéria acumulada e revisar conteúdos que apresentamos dificuldades, visando uma futura aprovação na faculdade que almejamos. No entanto, ao vislumbrar a realidade na prática, sair da cama já se torna um imenso empecilho, uma vez que preferimos nos manter alheios à cobrança do mundo exterior, das reponsabilidades e dos afazeres, preferindo mexer no celular pelo máximo de tempo possível, tentando encontrar uma fuga para a árdua realidade que vivemos.

Nos entupimos de doces, acordamos muito tarde, demoramos horas para limpar o quarto enquanto mexemos no celular, reclamamos pela situação e fugimos dos afazeres. Nos culpamos por não ter dado checklist em ao menos uma das inúmeras tarefas de nosso planner e passamos horas dizendo que precisamos que fazer algo, até que fica tarde demais para estudar e então não conseguimos dormir devido à culpa por não ter sido produtivo em mais um dia.

O fato é que não somos máquinas. É muito mais prazeroso assistir vídeos de pessoas falando aleatoriedades do que estudar o que acontece na prófase meiose. Procrastinar ou ser improdutivo é algo natural, fruto de uma parte de nosso cérebro chamada sistema límbico. A procrastinação aumenta neste momento de quarentena, pois estamos longe de nossos amigos e colegas, que estudavam e conviviam conosco, incentivando-nos indiretamente a tomar as mesmas atitudes que eles. Como diria Aristóteles, o homem é por natureza um animal social.

Procrastinar não é essencialmente ruim. O ruim é a culpa que vem após sermos improdutivos, a qual gera desmotivação.

Precisamos buscar ser produtivos enquanto seres procrastinadores. Afinal, além de nos culparmos pelo tempo que perdemos “não fazendo nada”, podemos não pensar no que passou, mas naquilo que somos capazes de fazer agora. Sofrer pelo passado só vai atrasar ainda mais nosso futuro.

 

 


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