Jornal A Semana

COTIDIANOS REAIS PARA PESSOAS REAIS

  • Douglas Varela
  • 16/10/2021 09:43
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Períodos de recesso são grandes oportunidades. Acho interessante poder revisar a matéria, limpar ou cozinhar respeitando nossos limites corpóreos, afinal durante férias, feriados ou feriadões não precisamos entrar pontualmente na sala de aula ou no ambiente de trabalho às sete e meia da manhã. Podemos ler com mais calma, demorar um pouco mais para ir dormir e desfrutar da liberdade ao maratonar algumas séries sem a pressão de entregar tarefas no dia seguinte. O ócio potencializa oportunidades.

E, em meio ao cotidiano desacelerado que os recessos nos permitem, pus-me a analisar a importância de estabelecermos metas reais. Geralmente, temos pilhas de pendências para resolver e um nevoeiro de compromissos abate nossos dias sem sabermos por qual lado começar. Nesses momentos, ferramentas analógicas como lápis e papel podem ser úteis para organizarmos prioridades e realizarmos tarefas. No entanto, elencar vinte e cinco atividades para serem feitas na mesma tarde além de ser doentio a realização dessas pendências geralmente é impossível.

Daí a importância de sermos coerentes com nós mesmos. A máxima socrática do conhece-te a ti mesmo nunca foi tão essencial quanto na contemporaneidade globalizada e informatizada. É preciso ter consciência daquilo que conseguimos fazer e do que nosso corpo é capaz de suportar. Senão, a lista de pendências irá continuar a crescer exponencialmente. E, em uma contemporaneidade procrastinadora, ansiosa e com tendências depressivas, permanecer soterrado de tarefas e mais tarefas, não é o mais recomendável.

Por isso, nos últimos dias de recesso, apesar de ter matéria acumulada e tarefas inacabadas, ao invés de trabalhar na potência máxima, preferi voltar alguns passos para trás e minimizar a voltagem. Estabelecer metas reais e dispor-me a realizar uma quantia limitada de afazeres tem sido positivo. Devagar e sempre. Ao final do dia, visualizar que consegui acabar aquilo que me determinei a fazer é satisfatório. E, inclusive, motivador para o próximo dia.

A vida melhora quando compreendemos que em um jogo precisamos superar as fases e que às vezes é preciso recuar para conseguir manter a constância. Metas reais para pessoas reais. No livro “O Pequeno Príncipe” é explícito que é preciso exigir de cada um aquilo que cada um pode dar.

Yuval Harari discorre na obra “21 Lições para o Século XXI” a importância da meditação e do cuidado com a saúde mental para que consigamos contornar os desafios da realidade contemporânea. Às vezes desligar-se do meio digital e das aparências solúveis construídas nas redes sociais é essencial para nos conectarmos com quem somos em um processo de desaceleração do cotidiano turbulento. Nesse sentido, o ócio é uma ótima oportunidade para analisarmos qual ritmo nosso corpo se sente confortável em suportar.




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