Jornal A Semana

A LONGA QUARENTENA DE MARY MALLON

  • Douglas Varela
  • 03/04/2021 09:00
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Imagem: Ilustração que faz alusão a Mary Mallon, conforme a edição de 20.jun.1909. Crédito: Autor desconhecido, no Jornal The New York American.

Zelia Maria Bonamigo,
Jornalista e Antropóloga Social.
zeliabonamigo@uol.com.br

Muito se tem falado em quarentena nos últimos tempos. Você sabe sua origem? Acredita-se que o termo passou a ser utilizado, em 1377, na cidade de Dubrovnik, na Croácia, onde as pessoas chegadas de áreas de risco ficavam por 30 dias, assim não transmitiriam doenças a quem morasse na região.

Mais tarde, o tempo foi estendido para 40 dias, talvez, tendo por base a bíblia, onde o número 40 marca o período de preparação de um enviado por Deus para nova missão, como ocorreu com Jesus, que jejuou 40 dias e 40 noites (Mt, 4,2).

Atualmente, muitos vivem experiências de isolamento social, e alguns podem escolher fazê-lo em suas casas, quando estas lhe dão as condições necessárias. Isso não aconteceu com Mary Mallon, que nasceu em 1869, em Cookstown, Reino Unido. Em 1883, com a idade de 14 anos, migrou sozinha para os Estados Unidos. Lá desenvolveu diversas habilidades culinárias e passou a cozinhar na casa das famílias.

Em 1900, com 31 anos, numa casa de família rica, onde Mary trabalhava como cozinheira, adoeceram oito pessoas. Depois, ao ser contratada para trabalhar na família de um banqueiro, somou-se a hospitalização de mais sete pessoas, com sintomas parecidos. Ela própria não adoeceu. Conforme a historiadora Judith Walzer Leavitt (Beacon Press, 1997), naquele período, aproximadamente 22 pessoas adoeceram em decorrência da ingestão de alimentos preparados por ela.

Então o banqueiro chamou George Soper, engenheiro com especialização em instalações sanitárias, que, por sua vez, pediu ajuda ao Departamento de Saúde de Nova York. Eles queriam averiguar o porquê ela não tinha os mesmos sintomas, queriam fazer exames médicos. No entanto, como ela não entendia o motivo de tais exames, uma vez que nada sentia, e relutasse em obedecer, foi obrigada a ir a um hospital. No final das contas, foram encontradas em suas fezes bactérias de Salmonella typhi.

Após a realização de exames, Mary foi confirmada como a primeira pessoa infectada assintomática dos Estados Unidos. Sofreu zombarias ao receber o apelido de Mary Tifoide, e na mídia se propagava que era culpada por levar doença de pobre para a casa dos ricos. Embora fazendo exames de forma independente, com resultados negativos, o Supremo Tribunal de Nova Yorque apoiou o Departamento de Saúde. Em consequência, foi confinada a uma cabana perto do hospital Riverside, de Nova Yorque, onde permaneceu por três anos. Em 1910, voltou ao convívio, mas com a condição de não trabalhar como cozinheira.

No entanto, ela precisou trabalhar e, mudando o sobrenome, conseguiu emprego numa lavanderia no Hospital Feminino de Sloane, em Manhattan, Nova Yorque. Então, lá adoeceram mais 25 pessoas, com duas mortes. Em consequência, teve que voltar a viver perto do hospital de Riverside, onde ficou até a morte, ocorrida em 11 de novembro de 1938, depois de viver 26 anos em quarentena. Morreu em decorrência de derrame cerebral, conforme a historiadora Judith Walzer Leavitt.

E você? Que tal fazer um paralelo entre a quarentena de Mary Mollon e o seu isolamento pessoal? Depois compartilhe aqui a sua experiência. Vamos nessa?

 

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