Jornal A Semana

DOENÇAS QUE VACINAS NÃO IMUNIZAM

  • Douglas Varela
  • 05/09/2020 10:59
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Já faz um tempinho que tenho tentado-me encontrar em meio ao caos. Busco uma explicação plausível para a tragédia que foge a minha racionalidade e que tem sido responsável por evidenciar o egoísmo latente, revirar rotinas, reinventar maneiras de viver, ceifar vidas e mirar holofotes às doenças que vacinas não imunizam.

Clarice Lispector na obra “Paixão segundo G.H.” escreve que, “se eu olhar a escuridão com uma lente, verei mais que a escuridão? A lente não devassa a escuridão, apenas a revela ainda mais”. Paradoxalmente, a pandemia tem servido-nos como a lente que dolorosamente revela ainda mais aquilo que fingimos não existir.

A Covid-19 tem mostrado-nos problemáticas que sempre estiveram em frente aos nossos narizes e negamos ver. A patologia não quebrou o sistema, apenas expôs as falhas que nele sempre existiram. Assim, a enfermidade tem acentuado ainda mais as desigualdades sociais, enfatizado abismos e dando vida às utópicas previsões apocalípticas.

Felizmente, o rastro de devastação humana foi diminuído significativamente. Animais re-habitaram suas “casas” originais, as propriedades insípidas, inodoras e incolores da água festejaram nos canais de Veneza e o céu de Hong Kong tornou-se mais azul. Em contraponto à vitória da fauna e da flora, com o agente catalisador do caos recluso, a ciência continuou a ser questionada e o ódio ainda está sendo dissipado juntamente com a falsidade, prepotência, desinformação e egoísmo, os quais têm menosprezado vidas em prol da economia - e o pior - acumulando uma legião de apoiadores. Questiono-me: o Coronavírus é o vilão da história?

Como diria José Saramago, “penso que não cegamos, penso que estamos cegos. Cegos que veem, cegos que, vendo, não veem”. Dessa maneira, indago quais são os limites para a ignorância do ser, o qual mesmo em condições extremas, responsáveis por traçar uma linha tênue entre a vida e morte, continua a negar aquilo que lhe é inerente.

Espero que, assim como Clarice e Saramago citam, possamos abandonar o negacionismo e enxergar a dolorosa realidade que nos cerca, estabelecendo mecanismos para melhorar o meio e a vida das pessoas que circundam-nos, transformando tempos atípicos em oportunidades para identificar e remediar doenças que as vacinas não imunizam.

 

 

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