Zelia Maria Bonamigo
Jornalista e Antropóloga
zeliabonamigo@uol.com.br

Pode ser que seus avós contaram essa história para você, mas pode ser que você nunca ouviu um fato como esse, principalmente se é jovem ou criança. No entanto, vale a pena ler esse tipo de assunto. Por que? Simplesmente porque você se conecta com a história para entender seu presente. Já leu algo assim: “História presente-passado”?

Em outras palavras, ninguém cai de paraquedas no Hoje, entra-se no contexto histórico, na história da região e da localidade a que se pertence. Por exemplo, o desenvolvimento econômico brasileiro, em algum momento, exigiu que os porcos, após a engorda, fizessem seu percurso, a pé, até o mangueirão em Ouro (SC). Por quê?

Pois bem, esse assunto interessa a todos, tanto aos filhos e netos de agricultores, que, no passado, conduziram lotes de porcos para serem lá vendidos, quanto àqueles que os compraram e os revenderam, em quantidades ainda maiores, para grandes empresários de São Paulo, a exemplo de Francesco Matarazzo.

Mas hoje vou citar Alduino Bonamigo (1928-2018), meu pai, que deixou escrito em seu livro, agora em processo de finalização, como se fazia para conduzir os porcos, já engordados, ao Mangueirão localizado em Ouro (SC), até, aproximadamente, o começo da década de 1950. Acompanhe o que ele escreve:

Quando ainda não havia caminhões para transportar os porcos. Quando aqueles que eram preparados para ser vendidos estavam gordos, eram tocados a pé em estradas estreitas, onde mal passava uma carroça puxada por animais. Seguiam em grupos de uns 20 de cada vez. Eles não comiam no dia anterior, e no dia em que eram levados uma pessoa ia à frente com um saquinho de grãos de milho chamando chi, chi, chi, e jogando grãos. E eles, com fome, seguíam a pessoa tentando comer o que encontravam no chão até chegar ao destino. Quando um porco cansava, era colocado na carroçinha que seguia a tropa.

O destino deles era a Vila Capinzal. Mas o mangueirão localizava-se no lado de Ouro. Os compradores completavam a carga em carroças e atravessavam, de balsa, o rio do Peixe. Lá os animais eram carregados nos vagões de trem e eram levados para São Paulo.

E você? Já leu sobre como funcionava esse Mangueirão em Ouro (SC) ou de outras localidades do Brasil? Ótimo! Mas se você ainda não leu nada nesse aspecto, pense numa pessoa idosa, que se lembre bem do passado, conte para ela o que leu aqui e desperte a memória dela (preferível por telefone durante a pandemia). Com certeza, ela lhe dará motivos para anotar a história que ela sabe e, talvez, até poderá ilustrá-la com um desenho e postá-la na sua rede social preferida.

Lembre-se: o presente tem mais sentido quando você conhece o passado. Assim você pode até projetar o futuro, como lembra o historiador Jörn Rüsen, Vamos nessa?